quarta-feira, 3 de junho de 2015

Mas...e depois? Um pouco de sentimentalismo mochileiro

Amsterdã, Holanda

Na próxima semana fará um ano desta minha pequena aventura. Esse tal de tempo voa, não é mesmo? Lembro da ansiedade da semana anterior a viagem. Trabalhei até o dia 30 de maio e do dia 1º ao dia 9 de junho a minha mente não parava. Dormir? Papo de 3 horas por dia. É na hora que a cabeça deita no travesseiro que a mente desinquieta. Sim, sonhava que esquecia coisas que não podia e acordava pensando em outras mil. Acredito que sofri de ansiedade de mochileira de primeira longa viagem, nos próximos espero dormir na semana anterior hahahaha.
Meus fratelli, irmã e companheira de viagem em Verona, Itália

Lembro como se tudo tivesse acontecido ontem, sinto tudo como se estivesse acontecendo agora. Não consigo ainda explicar tudo que esses três meses significaram na minha vida. Alguns não conseguem entender quando falo o que viajar fez (e está fazendo) na minha vida. Viajar não é apenas lazer. Decidir pelo meu mochilão foi sair da minha zona de conforto, optar por um mundo de ônus e bônus, onde vivo na pele cada um deles, eles que me fizeram olhar a vida de outra forma, buscar um caminho novo, pois minha única certeza quando fui era que a vida não poderia mais ser como estava, como foi. Todo caminho terá altos e baixos, mas acho que não há nada mais digno do que ter paz, algo que não tinha lá atrás, sabe? Por essas e outras, não me arrependo de nada. Caso tivesse uma máquina do tempo, voltaria há 2014 e tomaria a mesma decisão.

Split, Croácia
Sim, tomaria a mesma decisão. Ouviria mais algumas vezes que sou maluca. Ouviria mais algumas vezes “viajar é bom, mas você precisa dar um rumo na sua vida profissional”, ouviria sem contestar “conhecer lugares diferentes é ótimo, mas você precisa criar raízes” e também “já que você gosta tanto de viajar, porque não faz concurso pra aqui e ali pra ter dinheiro pra viajar?”. Eu acho válido quem viaja para relaxar e tudo mais, mas eu não viajo para isso. Sim, muitos dias de viagem foram mais cansativos que dias de trabalho, a diferença é a oportunidade de expansão da mente, que a rotina não me permitia.

Para mim, mochilar é uma forma de viagem que te dá uma oportunidade a mais, seja ela a de se conhecer ou de mudar seu olhar perante as mais diversas culturas. Eu viajei para expandir, para buscar outro caminho que posso trilhar depois de perceber que o escritório é uma gaiola para mim. Levei minha câmera e quis expandir meu olhar fotográfico. Levei meu coração e dei uma chance dele não precisar sufocar o que carrega em si. É difícil falar disso e não ser interrompido com um “porém”, as pessoas não entendem que podem discordar e isso não torna a opção de vida do outro menor. Também não digo que minha opção é o que deve ser feito, só que ela atende as minhas necessidades de vida. Mas posso afirmar que todos nós merecemos buscar o que nos é melhor, de nada vale viver uma vida que nos foi programada.

Santorini, Grécia
Foram apenas três meses, mas tanta coisa pode mudar em você. Ainda existem inúmeros lugares que quero conhecer e ver de perto a vidinha que levam, mas o impacto cultural já fez tanta bagunça aqui dentro. Cada dia dos 82 mochilados era uma lição. Lição de vida, lição de comportamento. Era ver como todos nós em cada parte do mundo somos mesmo de carne e osso, somos todos fracos e fortes, somos todos limitados e infinitos. Depois de ir ao Peru em 2013, essa vontade de querer olhar nos olhos das diferentes culturas se tornou uma inquietude em mim. Ver o outro, me fez ter uma visão melhor de mim, do meu país. Sabe, a gente se crucifica MUITO! E ver as qualidades e defeitos de tanta gente em seus diferentes “mundos” nos faz aceitar melhor os nossos. É deixar cair a ficha de que somos todos santos e pecadores.

Pessoal da Arte de Viver Berlim, Alemanha
Aprendi que nossas fronteiras são bem menos limitadas do que as barreiras que criamos. Aprendi que em 5 dias você pode fazer amigos tão queridos que as lágrimas escorrem no dia da partida, é tão bom perceber que em pouco tempo se pode criar vínculos tão fortes. Aprendi que mesmo não sabendo a língua local tentar aprender um “bom dia” que seja é uma atitude das boas. Aprendi o quanto as pessoas ficam felizes em te acolher e querem dar o melhor delas pra você. Aprendi que na Itália se comem muitos pratos. Aprendi que gente de bom coração e observadora (chamaria de anjos) encontramos em todo lugar. Aprendi que sempre há uma solução para cada problema. Aprendi que a vida fica muito boa vendo menos televisão por dia (no caso, nenhuma). Aprendi que existe mais bondade no mundo do que lemos nas notícias. Aprendi que podemos viver com menos, minha “casa” era o peso que eu carregava, e você ainda joga algumas coisas fora pelo caminho. Aprendi que quando você se permite estar tranqüilo, TUDO ACONTECE, é a mágica de sair da zona de conforto. Aprendi que o mundo é ainda mais maravilhoso e a gente merece conhecer cada canto dele. Aprendi que devemos cada vez mais respeitar o outro e sua cultura, precisamos de todo essa mistura pro bolo da vida ficar mais gostoso. 

Castelo de Dublin, Irlanda
E como dá aquela saudade, viu?! Faz falta descobrir essas novas cores de cada lugar. Faz falta acordar as 7 da manhã e andar até as 10 da noite, pois é quando o Sol se põem (no verão). E a cada dia estar em um quarto com pessoas de cada canto do mundo e conhecer um pouco esse cantinho. Sinto falta de apenas ir! Faz falta ser acolhida por pessoas tão incríveis que nunca me viram, mas abriram suas casas e corações. Sinto falta da correria e da dor nos pés de tanto andar. Sinto falta de olhar para algum lugar e pensar “caramba, eu to aqui” e transbordar de gratidão. Ah, e andar perdida mesmo com o mapa na mão? Uma delícia! Sinto falta de pedir uma informação e ganhar um sorriso. Sinto falta de olhar aqueles parques cheios de gente aproveitando sejam as férias ou o fim de tarde, apenas aproveitando a vida. Sinto falta de pegar o trem e chegar à outro país. Sinto falta de conhecer outros viajantes e suas histórias tão bacanas. Sinto falta de ouvir histórias de um nativo sobre seu país. Sinto falta de não ter rotina. Sinto falta de saber que é tudo novo todo dia. Sinto falta de ganhar carinho de pessoas que nem uma língua em comum comigo falavam. Sinto falta do aprendizado que uma viagem pode ser (quando a gente opta por aprender). Sinto falta do gelato. Sinto falta da comida da mamma italiana.  Sinto falto dos abraços que ganhei por lá e dos afetos que vou levar por toda vida. Ai, sinto falta de não saber onde dormir no dia seguinte. Sinto falta da correria para conhecer algumas cidades. Sinto falta dos dias tranquilos que ouvíamos música, conversávamos  e conhecíamos o que dava pra conhecer. Sinto falta de (tentar) aprender algumas palavras da língua local. Sinto falta de parar e contemplar, porque quando a gente está no “nosso canto” a gente se esquece de parar um pouco apenas para contemplar. Sinto falta até de deitar no saco de dormir encima de um colchonete fino emprestado com todo amor, dormir no chão do aeroporto, dormir no trem...ai ai que saudade de tudo. Até do frio na barriga dos dias que antecederam a viagem. Adorava olhar o relógio e ver o horário daqui e o horário de lá, às vezes era um dia em cada canto. Sabe aquelas experiências pra contar pro netos? Então...é por isso e muito mais que desde que voltei planejo o próximo destino. Viver é nossa melhor escola.


Cascais, Portugal
Aviso aos navegantes, ou melhor, mochileiros, não é fácil. É um desconstruir-se para construir. Se permitir ter um novo caminho é hard core, mas você percebe que mais a frente entenderá tudo. Poderia escrever um livro sobre tudo que essa viagem me causou. Ela que foi uma ideia que surgiu em um momento de busca pelo meu propósito de vida e foi a melhor porta, janela ou qualquer outra coisa que pude me abrir. É saber que seremos testados a todo o momento e em compensação, cada passo dado gera uma gratidão que você nunca sentiu antes. Sem mais delongas, antes que o post fique demasiadamente grande :P. Minha dica após essa experiência é: se jogue! Saiba onde pode se jogar, vendo onde os possíveis tombos serão amortecidos ;).


A mochileira que vos fala curte escrever, espero que o post não tenha ficado longo demais por isso. Se planejo outros mochilões? Mas é claaaaro! Se já tem alguma data? Ainda não, mas tudo muda o tempo todo. Afinal, resolvi mudar de vida, sair do escritório e ainda estou trilhando o novo caminho bem devagar, mas já já uma nova trip das boas, sai! E é claro que venho aqui contar pra vocês. Enquanto isso sempre tem assunto por aqui, ok?

Até o próximo post, galera! J




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